O que fomos e o que seremos em tempos de pandemia

Penso que em situações caóticas vividas por uma pessoa há um processo de transformação. Apesar dos aspectos negativos terem um destaque neste tipo de experiencia, é um momento que favorece a reflexão e a tentativa de extrair algo valioso para o crescimento pessoal.

E neste período de pandemia não seria diferente. Muito medo foi desencadeado, tristeza, ansiedade e desesperança. Perdas concretas (falecimentos de entes queridos) e simbólicas (afastamento das atividades habituais).  Relatos similares aos vivenciados em tempos de guerra. Uma guerra contra o invisível (vírus) … um inimigo que não sabe como combater, restando apenas a possibilidade de se isolar-se.

Acredito que nos depararemos com pessoas que trarão em seu discurso, relatos similares às pessoas que foram para um combate e desenvolveram um estresse pós traumático.

Todavia, diante de uma retomada gradativa das atividades, quero compartilhar um relato que me chamou a atenção. Encontrei com uma amiga, e esta, referiu que no começo do isolamento estava encantada pela pausa que a situação exigia. Aproveitou para organizar sua casa, realizar tarefas e atividades que apreciava e que há muito não fazia por falta de tempo.

Todavia, quando a situação começou a ser modificada – a retomada as atividades de trabalho, foi invadida por uma angústia, uma tristeza que a impediu inclusive se sair de sua cama em um determinado dia. Não queria ver ninguém, falar com ninguém e seu sofrimento era tão intenso que ligou para o CVV (Centro de Valorização da Vida). Queria apenas falar com alguém que não a conhecia, mas que estava pronto para ouvi-la sem críticas e julgamentos. Sentiu-se então novamente renovada, apenas por alguém ouvir seu sofrimento diante da situação vivenciada.

Esta experiência nos favorece refletir sobre esta situação. No início a parada abrupta do trabalho foi sentida de maneira positiva, proporcionando dedicação às atividades domésticas, simples, mas que lhe eram prazerosas pois não as realizava pelo excesso de trabalho, que lhe consumia todo o seu tempo (e sua vida). E, quando se depara que deveria abandonar tudo isso, e voltar a rotina de antes foi tomada por uma tristeza intensa.

Mas será que teria que renunciar a isso mesmo? Será que a oportunidade que houve em sua vida, não favoreceu olhar para si e descobrir interesses além dos relacionadas ao trabalho?

E, porque não permitir dividir o seu tempo para realizar as diversas atividades que aprecia.

A parada do trabalho in loco, foi sentida para muitos como uma perda, mas também trouxe a possibilidade, de abrirem os olhos e ver quantas coisas importantes existem além da atividade profissional. Há pessoas que foram aproximadas no ambiente de casa, atividades que foram descobertas como fontes de prazer e principalmente surgiu um tempo para si mesmo.

Então, neste período de retomada de suas atividades, não renuncie a atividades que lhe fazem bem, atividades de lazer, filmes e séries que quer ver, leituras, encontros e conversas com amigos e familiares. Tempo precioso que não existia antes em sua vida, pois é ele que alimenta a alma e aquece o coração.

Uma vida com mais leveza depende apenas de você!

 

(Texto de Alessandra Shenandoa Heluani – Psicóloga e Neuropsicóloga/ Mestra em Ciências pela FMUSP). 

 

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